2.    Projeto INNOACE - Inovação aberta e inteligente na EUROACE (Euroregião do Alentejo, Centro e Extremadura)

O Projeto INNOACE - Inovação aberta e inteligente na EUROACE (Euroregião do Alentejo, Centro e Extremadura), referência 049_INNOACE_4_E, está inserido no Programa INTERREG V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020 que consiste na cooperação transfronteiriça entre Portugal e Espanha, que está a permitir o avanço na melhoria da qualidade de vida dos habitantes do Espaço de Cooperação, formado por 37 unidades territoriais (NUTS III) pertencentes aos dois países, assegurando a consistência e a continuidade das zonas estabelecidas.
O POCTEP 2014-2020 tem como principais objetivos: potenciar a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação; melhorar a competitividade das empresas; promover a adaptação às alterações climáticas em todos os setores; proteger o meio ambiente e promover a eficiência dos recursos; e melhorar a capacidade institucional e a eficiência da administração pública.
Nesse contexto, o Projeto INNOACE se propõe a desenvolver acções e actividades na EUROACE para fortalecer o tecido empresarial, ao criar sinergias entre empresas e centros de  R + D + i (Investigação, desenvolvimento tecnológico e inovação), o que permite a transferência e validação precoce de produtos e serviços através de processos abertos de inovação e fomenta o processo de descoberta empresarial em sectores estratégicos.
Na Atividade 2 do Projeto INNOACE, se encontra a Tarefa 4 – Novas tendências da Industria da Construção: Diagnóstico e proposta de implementação massiva de BIM na EUROACE, que tem como objetivo principal implantar a metodologia BIM entre os intervenientes da indústria AEC da EUROACE através de um diagnóstico do estado de implementação BIM, seguido de uma análise dos desafios e oportunidades e definição de uma estratégia para difusão dos conhecimentos necessários sobre a metodologia BIM junto de estudantes, profissionais e empresas de arquitetura, engenharia e construção.
Para desenvolvimento das atividades previstas de implantação da metodologia BIM na EUROACE foi definida uma colaboração entre o Instituto Tecnológico de Rocas Ornamentales Y Materiales de Construcción (INTROMAC), Institución Ferial de Extremadura (FEVAL) e Instituto Politécnico de Portalegre (IPP). Desta colaboração, ficou sob a responsabilidade do IPP implementar as atividades relacionadas as regiões do Centro e Alentejo de Portugal.

3.    Análise actual do mercado da construção

Mediante um contexto complexo e de crise econômica dos anos anteriores, a industria da AEC a partir de agora, inicia um novo arranque, com um futuro promissor, desde que sejam superados os desafios políticos, económicos, ambientais e sociais da actualidade. Segundo o relatório Global Construction 2030 \citep*{economics2015}, o mercado global da construção possui perspectivas de crescimento na ordem de US $ 8 trilhões de 2015 até 2030 atingindo um total de US $ 15,5 trilhões, o que representa um aumento de 85% e uma taxa de crescimento médio anual de 3,9%. O crescimento deverá ser impulsionado pelos países desenvolvidos, ao se recuperarem da instabilidade económica e pelos países emergentes em continuo ritmo de industrialização. A estimativa é que até 2030, a construção irá representar 14,7% do PIB global, ante 12,4% em 2014.
Na Europa, de acordo com Elżbieta Bieńkowska, EU Commissioner for Internal Market, Industry, Entrepreneurship and SMEs, em prólogo do Handbook for Introduction of Building the Information Modelling by the European Public Sector \citep*{eubimtaskgroup2017}, os desafios impostos às oportunidades de crescimento do sector de Engenharia e Construção estão associados às mudanças climáticas, a eficiência dos recursos, a maior demanda de assistência social, a urbanização e a imigração, o envelhecimento da infraestrutura, bem como os orçamentos restritos. Desta forma, para atender a esta demanda, é crucial que este sector seja inovador, competitivo, eficiente e focado na sustentabilidade, o que corrobora para a adopção de novas tecnologias que promovam um ambiente colaborativo, maior produtividade, redução de desperdícios e permitam a avaliação sustentável de todo ciclo de vida, como é o caso da metodologia BIM.
Em Portugal, os indicadores económicos da industria da AEC comprovam as perspectivas de crescimento futuro, com um novo arranque a partir de 2017. Desde Janeiro de 2017, o Índice de Produção na Construção, em Portugal, permanece positivo, sendo que apresentou a menor taxa em maio, aproximadamente 1%, e desde então vem aumentando gradualmente, atingindo 3% em Janeiro de 2018 \citep*{ine2018}, o montante de contratos de empreitadas de obras públicas celebrados no primeiro semestre de 2017 atingiu os 829,5 M€, um aumento de 86%, contrariando a tendência de redução do investimento que se tinha verificado nos últimos anos \citep*{aecops2017}, e em quadro de indicadores do sector da construção civil e obras públicas apresentado no Relatório de Conjuntura da Construção de Fevereiro de 2018 \citep*{fepicop2018}, foi apresentada uma contabilização de produção global anual do sector de construção de 10.741,8 M€, com um crescimento anual de 5,9% até o final de 2017 e com previsão de crescimento de 4,5% no ano de 2018. Contudo, neste momento oportuno é imprescindível realizar os investimentos necessários na eficiência de todo o ciclo de produção da industria da  AEC, para garantir a competitividade nos âmbitos nacional e internacional e a sustentabilidade empresarial dos diversos intervenientes portugueses envolvidos em concordância com o que vem sendo preconizado para todo o mercado comum europeu.  
Neste contexto, é importante destacar que do ponto de vista da implementação do BIM, o cenário actual é promissor em Portugal, pois a indústria da AEC se apresenta em crescimento, momento ideal para a expansão e consolidação da metodologia BIM. Sempre é relevante reflectir que a indústria da construção movimenta vários sectores da economia, a montante e a jusante da sua cadeia de produção, sendo assim um dos maiores impulsionadores da economia nacional, não só pela criação de riqueza, mas também de emprego.  

4.    Implementação BIM em Portugal

Em relação a outras regiões da Europa e alguns países não europeus, a implementação BIM em Portugal até agora se encontra numa fase relativamente atrasada, contudo há de se observar um grande esforço para reversão da situação atual.
 

4.1.    Evolução de trabalhos e divulgação  

Diversas entidades em Portugal, ao longo dos últimos anos têm desenvolvido ações que demonstram o interesse e vontade em discutir e disseminar o paradigma BIM para incentivar a sua implementação. Estas iniciativas transversais vêm agrupando empresas, organismos do estado, universidades e associação de profissionais em torno do objetivo comum de estimular o uso da metodologia BIM na indústria da AEC.
Dentre as iniciativas, há de se destacar a criação do GT BIM pela Plataforma Tecnológica Portuguesa de Construção (PTPC), BIMForum Portugal e o BIMCLUB. O GT BIM foi formado por docentes de várias universidades do país e por profissionais com vasta experiência em BIM, enquanto o BIMForum Portugal, foi originado por gabinetes de projeto, empresas de construção, instituições de ensino superior e empresas representantes de diferentes softwares BIM. Já o BIMCLUB foi promovido por docentes e estudantes, em meio académico, envolvidas na divulgação do BIM em Portugal e curiosas por aprender, fomentando a partilha de conhecimentos e práticas colaborativas \citep{club}.
Contudo, dentre as iniciativas, uma das mais dinâmicas e que vem assumindo a liderança nas ações de implementação da metodologia BIM, com integração europeia e internacional, é a Comissão Técnica de Normalização BIM Nacional, a CT 197, coordenada pelo Organismo de Normalização Setorial do Instituto Superior Técnico (ONS/IST) e que atua em âmbito nacional refletindo os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Técnica de Normalização BIM Europeia (CEN/TC442) e pela Comissão Técnica de Normalização ISO no domínio dos edifícios e obras de engenharia civil (ISO/TC59), sendo a entidade delegada pelo Instituto Português da Qualidade como responsável pelo desenvolvimento da normalização no âmbito dos sistemas de classificação, modelação da informação e processos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos de construção \citep*{apresentao}.
A partir destas iniciativas e através de outras entidades vêm sendo organizados diversos eventos e cursos com a temática BIM. Um dos primeiros eventos BIM em Portugal o foi o Workshop Internacional – Novo Modelo de Informação na Construção – Building Information Model realizado no ano de 2006.
Em 2012, o GT BIM e BIMForum realizaram o 1º Workshop Nacional BIM, subordinado ao tema “BIM em Portugal: O estado da arte e o futuro”, no centro de congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil em Lisboa. Enquanto isso, na Universidade do Minho, ainda em 2012, foi promovido o Seminário Building Information Modeling Possibilidades e Desafios para a Arquitetura e Engenharia.
No ano de 2013, foi lançada a 1ª Conferência Internacional sobre o tema “A Metodologia Building Information Modelling (BIM) – Uma Mudança de Paradigma” no Porto, e neste mesmo ano foram organizados uma Sessão de Introdução ao BIM pelo Núcleo de Tecnologias de Informação na Engenharia Civil (NTIEC) da Universidade do Porto, e um Workshop de Modelação “BIM nas Estruturas de Betão Armado” pela Universidade do Minho.
No ano seguinte, houve a 2ª Conferencia Internacional sobre o tema “Metodologia Building Information Modeling (BIM) – Desafios para a Superação”, em Lisboa, e a partir de 2014, a Ordem dos engenheiros de Portugal vem promovendo cursos de BIM anualmente, com a participação de docentes pertencentes ao GT BIM e profissionais com experiência em BIM.
O iiSBE Portugal (Iniciativa Internacional para Sustentabilidade do Ambiente Construído – Portugal), desde 2015 também promove anualmente cursos de formação BIM, por entender o BIM como uma metodologia colaborativa de projeto, construção e gestão do processo construtivo importante para a evolução da sustentabilidade do ambiente construído.
A partir de então a formação na temática BIM vem sendo implementada gradualmente em diversos cursos de formação de arquitetura e engenharia, principalmente quando associados ao mestrado e doutorado, assim como diversos workshops, palestras e seminário têm sido ofertados para enriquecimento técnico dos profissionais que atuam na indústria da AEC.
 
Há ainda de se destacar que no ano de 2016, Portugal foi selecionado como palco do RTC Europe 2016, que decorreu no edifício da Alfândega do Porto, fazendo de 2016 o ano BIM em Portugal. O ISEPBIM (Instituto Superior de Engenharia do Porto BIM) desde então juntou-se ao RTC numa parceria com o objetivo de potenciar a disseminação do BIM em Portugal, quando vieram a promover o BIMTI (BIM Trends and Innovation), que teve sua primeira edição no mesmo ano de 2016, e sua segunda edição em 2017. Outro destaque foi a formação de uma colaboração entre o Instituto Superior Técnico, Universidade do Porto e Universidade do Minho, junto a Ordem dos Engenheiros e Ordem dos Arquitetos através do CT 197, para promover em 2016 o 1º Congresso Português de Building Information Modelling, em Guimarães, sendo que sua segunda edição está prevista para 2018 em Lisboa.

4.2.    Estado da arte atual  

Em Portugal há um número crescente de publicações sobre o uso da metodologia BIM, entretanto poucas são aquelas a respeito do estado de adoção na indústria da AEC. O conhecimento sobre o estado de implementação é fundamental para que se possa perceber se o setor se encontra preparado para receber as ferramentas BIM e para se considerar se devem haver incentivos para acelerar essa adoção. Uma das barreiras, geralmente, colocadas à adoção de BIM são os elevados custos de inserção da metodologia no ambiente de trabalho, não só pelos valores associados a aquisição de licença de software BIM, mas também associados a treinamentos e formação dos recursos humanos.
O inquérito mais abrangente já realizado em Portugal até o momento buscou contar com a representatividade dos diversos intervenientes do setor da construção, conforme pode ser observado no esquema da Figura 2 \citep*{l2015}.