3.1.        Abordagem Econômica

A maioria dos artigos apresenta alguma dimensão econômica aliada à cobrança de taxas para disposição dos RCD em aterros. Yuan, Shen, Hao, & Lu (2011) apresentaram um modelo quantitativo, com abordagem sistêmica, que simula os efeitos de diferentes taxas de cobrança para disposição em aterro (TDCA) no custo benefício de práticas de reciclagem. Por meio da modelagem é percebido que o aumento da TDCA incentiva a reciclagem, mas quando o valor é muito alto a disposição ilegal de resíduos aumenta consideravelmente.
Zhao, Ren, & Rotter (2011), diferentemente dos autores citados anteriormente, focaram na simulação da geração de resíduos em diferentes cenários para identificar qual tipo de centro de reciclagem, fixo, móvel, privado ou público, traria maior vantagem econômica na gestão dos RCD baseados na localização dos centros. Hao, Hill e Shen (2008) também utilizaram a Dinâmica de Sistemas para simular toda a cadeia de RCD e concluir qual dos tipo de centro de reciclagem seria mais vantajoso economicamente, porém a comparação foi feita com dois centros centros on-site. O primeiro com treinamento dos trabalhadores da linha de frente, e o segundo com treinamento e separação manual.
Hao, et al. (2010) simularam a cadeia de RCD por meio da DS de 2005 até 2024 em Shenzhen, China. Com o auxílio do modelo, várias informações relevantes foram obtidas, como a capacidade dos aterros, que seria exaurida em 2016, fatores que afetavam a redução dos RCD ao longo do tempo, benefícios financeiros a longo prazo da implantação do reuso e reciclagem desses resíduos, e a necessidade de regulamentações rígidas e esquemas de incentivo para inibir a disposição ilegal de residuos e aumentar a taxa de reciclagem.

3.2.        Abordagem ambiental

Os artigos que abordaram aspectos ambientais muitas vezes, assim como no aspecto econômico, utilizaram análises de políticas e regulamentações. Hao, Hills e Huang (2007) construíram um modelo dinâmico de gestão de RCD e criaram cenários relativos à implantação de políticas e legislações. Dessa forma, os autores avaliaram como essas afetam a capacidade e a necessidade de construção de novos aterros. No mesmo contexto, Jia, et al. (2017) desenvolveram um modelo para abordar os problemas associados aos RCD, como exaustão de aterros e disposição ilegal de resíduos. A abordagem de DS foi utilizada para calcular uma faixa de valor aceitável para a multa de disposição ilegal de resíduos. Os últimos autores citados ,de forma a melhorar seu modelo, adicionaram um subsíduo para incentivar a reciclagem e reuso dos resíduos. Depois foram feitas diversas simulações de diferentes cenários de multa, TDCA e subsídios para serem comparados e analisados os efeitos sobre a geração, reciclagem e disposição de resíduos.
Ye, et al. (2012) desenvolveram um modelo para avaliar a performance ambiental da gestão dos RCD, e usando a abordagem da DS, são simulados 3 cenários. O primeiro relacionou a poluição do ar, causada pelo reuso, reciclagem e transporte de resíduos para aterros, com a performance ambiental. O segundo relacionou a qualidade da água, afetada pela gestão dos RCD, com a performance ambiental. E o terceiro combinou os dois cenários anteriores. Os resultados da simulação forneceram informações de como melhorar a performance da gestão dos RCD.
Os autores Li, Shen e Alshawi (2014) enfatizam que o uso de pré-fabricados na construção civil é uma forma eficiente de reduzir a geração de resíduos e, consequentemente, ser mais sustentável. Sendo assim, a Dinâmica de Sistemas foi utilizada como uma ferramenta de auxílio à tomada de decisão para a utilização de pré-fabricados, e como essa utilização pode afetar na geração, reciclagem e disposição dos RCD. Os autores também puderam perceber através do modelo de DS, que para as empresas de construção civil os subsídios são mais significantes do que a concessão de benefício no imposto, quando se trata da responsividade das empresas na utilização dos pré-fabricados. Outros autores que também construíram um modelo de DS para gestão da redução dos RCD foram Ding, et al. (2017). A aplicação do modelo foi feita em Shenzhen, China. Foram analisadas duas formas de redução dos resíduos: diminuição de insumos e mudança no comportamento de separação de resíduos nas construções. Essas duas formas levam à redução da utilização de aterros, redução nas emissões de gases de efeito estufa, evitam perda de terras e diminuem a utilização de água.
A aplicação do modelo de Tam, Li e Cai (2014) também foi feita na cidade de Shenzhen, China, e forneceu uma análise profunda sobre as várias atividades envolvidas na logística da cadeia de RCD, como: geração, transporte, reciclagem, disposição de resíduos ilegal e em aterro. Por meio da abordagem sistêmica, foram feitas simulações baseadas em políticas. A primeira é uma simulação sem nenhum programa de controle, que leva à rápida exaustão dos aterros. A segunda simula os efeitos da TCDA. Foi observado que a geração de resíduos não muda, porém a reciclagem aumenta, o uso de aterros diminui, mas a disposição ilegal aumenta. Na segunda simulação foi implementada uma política econômica compreensiva: alia o cenário anterior à multa para disposição ilegal, o que faz com que os RCD sejam menos dispostos em locais indevidos. Marzouk e Azab (2014) e Yuan e Wang (2014), também abordaram a questão da influência da TCDA sobre a reciclagem, e relacionaram essa última à redução das emissões de gases de efeito estufa, gasto de energia, aquecimento global e gastos públicos.
Esa, Halog e Rigamonti (2017) assim como os autores supracitados apresentaram um modelo qualitativo de DS para a gestão dos RCD e concluíram a partir do modelo que as políticas de reuso e reciclagem são muito importantes para diminuir os impactos ambientais. Outra conclusão feita somente por esses autores é que os atores envolvidos nas atividades de construção e demolição têm disposição de implantar a gestão, porém o número reduzido de usinas de reciclagem dificulta a tomada de decisão nesse sentido. Foi também observado que deve-se investir na redução da geração de resíduos e que regulamentação apropriada deve ser implantada para que sejam inibidos comportamentos ambientalmente prejudiciais.
Zhikun et al. (2018) construíram um modelo para avaliar os benefícios ambientais da gestão dos RCD. Foram considerados três subsistemas: gestão da redução da geração, geração e disposição e avaliação dos benefícios ambientais. Os autores enfatizaram a necessidade da gestão desde a fase de design das construções para reduzir a geração de resíduos, consumo de energia, emissão de gases de efeito estufa e uso de aterro.

3.3.        Abordagem Social

Yuan (2012) é o único autor da amostra que desenvolveu um modelo quantitativo para simular medidas de gestão que maximizem performance social. O autor utilizou dados empíricos coletados numa construção na China e fez a análise de três cenários. No cenário 1 foi analisado se melhorias no ambiente físico de trabalho aumentariam a performance social da gestão de RCD. O cenário 2 investigou se melhorias na segurança das operações ajudariam na promoção da performance social. E por fim, o cenário 3 foi uma junção dos dois cenários anteriores.

3.4.        Abordagem Econômica e Ambiental

Guo, et al. (2016) desenvolveram um modelo baseado na DS para ser utilizado como ferramenta de tomada de decisão para que empreiteiros consigam recuperar valor com a disposição dos RCD. O artigo enfatiza que a medida mais efetiva para recuperação de valor é melhorar a demanda do mercado em materiais renováveis, incentivar o pensamento ambientalmente correto das empresas para construir “imagens verdes”, e melhorar o nível do mercado de reciclagem.

4.     Discussão

A partir da análise dos assuntos abordados pelos artigos analisados é possível observar alguns pontos críticos. O primeiro deles é a escassez de artigos que abordam o aspecto social associado à gestão, e consequente logística reversa, dos RCD. Dessa forma, observa-se uma lacuna do conhecimento que pode representar substancial importância nos processos de implantação da logística reversa em empreendimentos de construção ao redor do mundo. A questão da segurança e do ambiente de trabalho favoráveis, quanto aos processos de separação, coleta, transporte, reciclagem e reuso dos RCD apresenta-se superficialmente explorada. Além de outros aspectos sociais, como a relação da saúde da população com o descarte ilegal de resíduos da construção civil e demolição, ainda permanecem pouco abordados.
Outro ponto crítico é a abordagem econômica muitas vezes limitada na forma da influência de políticas e localização de centros de reciclagem na redução de custos relativa à disposição final dos RCD. O fator de reuso dos resíduos é negligenciado, assim como outras atividades influenciadoras no aspecto econômico, como fiscalização, separação dos resíduos e mão de obra especializada. Além disso, a combinação dos aspectos econômicos da logística reversa, como relações de custo-benefício, com os aspectos ambientais da geração de resíduos, poluição, emissão de gases, exaustão da capacidade de aterros e disposição ilegal demanda futuras pesquisas. A maioria dos artigos analisados tem como foco a performance ambiental, porém é de extrema importância para os geradores e gestores dos RCD que o interesse econômico seja satisfeito, e que a logística reversa seja uma forma de recuperação de valor. Dessa forma, mesmo na ausência de subsídios, taxas de cobrança e fiscalização, as atividades reversas da cadeia de RCD serão empregadas, de forma a atender os requisitos da sustentabilidade ambiental e os interesses econômicos das empresas.
Além do exposto acima, a partir da análise do conteúdo dos artigos observa-se constante destaque para a importância de políticas, regulamentações e taxações para que seja implantada a gestão dos RCD, e estas podem ser incorporadas nos modelos de acordo com a realidade e condições do local objeto da análise. Indicando, assim, a efetividade e dinamismo da ferramenta utilizada para a análise estratégica. Além disso, a abrangência da ferramenta é grande, possibilitando a modelagem de diferentes subsistemas pertencentes à cadeia de RCD, incorporação de inúmeras variáveis relevantes para o assunto, e simulação de cenários diversos, de forma qualitativa e/ou quantitativa utilizando dados empíricos ou simulados.
Após extensa análise, algumas perguntas podem ser levantas, como: qual a relação entre a logística reversa dos RCD com a performance social; qual a forma mais efetiva para que as empresas de construção civil adotem pro ativamente a logística reversa; quais o fatores críticos que são empecilhos para que isso ocorra; quais as principais ações envolvidas na logística reversa que maximizam a performance ambiental e econômica conjuntamente; quais são os fatores envolvidos para que a logística reversa dos RCD possa atender a todas as dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e econômica)

5.     Conclusão

Esse trabalho oferece uma revisão de 16 publicações de autores com reconhecimento científico comprovado e temas relevantes sobre a logística reversa dos resíduos de construção civil e demolição pela abordagem da Dinâmica de Sistemas. A dimensão da sustentabilidade, a abordagem do modelo utilizado, seus cenários, e os pontos principais contidos em cada artigo foram discutidos. A maioria dos artigos relacionou a cadeia reversa dos RCD com regulamentações e políticas de forma a incentivar a reciclagem, diminuir a disposição em aterros e inibir a ilegal. O aspecto ambiental foi amplamente abordado, enquanto que o social foi tratado superficialmente por apenas um artigo. A abordagem do aspecto econômico se limitou à redução de custos com a reciclagem, e o reuso foi negligenciado. Dessa forma, o presente trabalho apresenta a atual conjuntura de pesquisas utilizando o método da Dinâmica de Sistemas na logística reversa dos RCD, possibilitando a identificação de lacunas de conhecimento sobre o assunto, e levantando questões importantes ainda não respondidas.
 
   
 
                                                                                                                                                                                                              \ref{111225}
 
Critérios primários
 
 
Autores
 
 
Econômico
 
 
Ambiental
 
 
Social
 
 
Yuan, Shen, Hao, Lu (2011)
 
 
x
 
 
 
 
 
 
 
 
Hao, Hills, Huang (2007)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Yuan (2012)
 
 
 
 
 
x
 
 
x
 
 
Zhao, Ren, Rotter (2011) 
 
 
x
 
 
 
 
 
 
 
 
Hao, Hill, Shen (2008)
 
 
x
 
 
 
 
 
 
 
 
Marzouk,  Azab (2014)
 
 
x
 
 
 
 
 
Yuan, Wang (2014)
 
 
x
 
 
 
 
 
Li, Shen, Alshawi (2014)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Ye, Yuan, Shen, Wang (2012)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Ding, Yi, Tam, Huang (2017)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Hao, Tam, Yuan, Wang, Li (2010)
 
 
x
 
 
 
 
 
 
 
 
Tam, Li, Cai (2014)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Esa, Halog, Rigamonti (2017)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Jia, Yan, Shen, Zheng (2017)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Ding, Zhu, Tam, Yi, Tran (2018)
 
 
 
 
 
x
 
 
 
 
 
Guo, Peng, Guo, Jin (2016)
 
 
x
 
 
x
 
 
 
 
 Tabela 1:Artigos classificados por critérios primários