Em quase dois meses, cerca de 87 mil pessoas por dia estão deixando a Ucrânia buscando proteção, principalmente, na Polônia, Hungria, Moldova e Eslováquia. Trata-se de mais um grande fluxo de refugiados constituído, em grande parte, por crianças, mulheres e idosos vulnerabilizados pela guerra, e que vêm se tornando um desafio humanitário para os países hospedeiros.
Diante desse cenário, não há dúvidas de que a deslocamento populacional através das fronteiras do país se situa entre os impactos demográficos mais imediatos e angustiantes deste conflito. O que nos leva a questionar: é possível dimensionar os efeitos desse conflito para as migrações internacionais? A resposta não é simples. Envolve a consideração de diferentes processos, como a própria dinâmica migratória do país, o crescimento populacional, a evolução dos níveis de fecundidade e mortalidade, estrutura etária da população, envelhecimento populacional entre outros. Além disso, esses processos devem ser considerados ao longo de um certo período.
Podemos começar a responder a essa questão considerando, inicialmente, a dimensão populacional da Ucrânia e dos países vizinhos, no período recente [Quadro 1]. O primeiro aspecto a chamar a atenção é a grande expressividade da Rússia em termos populacionais: tanto em 2010 como em 2020, a população russa superou numericamente a soma das populações dos demais países. Na sequência, Ucrânia e Polônia destacam-se como um segundo grupo de países mais populosos da região.